O longa-metragem, de Cibele Amaral, com copatrocínio de 400 mil do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), briga pelo cobiçado Kikito
Um dos mais tradicionais eventos do cinema brasileiro ainda traz um outro representante brasiliense: o curta “Wander Vi”, dirigido pela dupla Nathalya Brum e Augusto Borges, que concorre em Curtas Brasileiros. Juntas, as duas produções levam a força do audiovisual do Distrito Federal para um dos mais importantes eventos do gênero do país. Neste ano, o formato não será presencial por conta da pandemia da Covid-19. A transmissão será realizada pelo Canal Brasil (TV por assinatura) e pela internet.
“É sensacional levar o nome do Distrito Federal a festivais nacionais e internacionais, porque, além de reconhecimento para todos os integrantes da cadeia audiovisual do DF, é uma oportunidade de mostrar o que é feito com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC)”, comemorou a subsecretária da Secec, Érica Lewis, que organiza a próxima edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, a ser realizada, em formato híbrido, em dezembro deste ano.
“Por que você não chora?” recebeu R$ 400 mil do FAC e R$ 800 mil da Ancine. Neste momento, a secretaria está com inscrições abertas para o edital Visual Periférico, que vai contemplar, no mínimo, 102 projetos num total de R$ 9.040.000,00, percorrendo 13 linhas da cadeia produtiva desse segmento: do desenvolvimento de roteiro à criação de telefilmes ou obras seriadas. Os projetos culturais deverão ser enviados até 15 de outubro de 2020 até as 18h, por meio de sistema eletrônico de inscrição.
Produção realizada, parcialmente, com verba do FAC e toda ambientada no DF, em locais como a UnB, Parque da Cidade e Riacho Fundo, o longa “Por que você não chora?”, de Cibele Amaral, dramatiza as experiências da diretora como psicóloga estagiária no Instituto de Saúde Mental (ISM). “Esse projeto nasceu do desejo de falar sobre a saúde mental”, revela a diretora, também roteirista do filme.
“Sem o fomento do estado, a cultura regional não tem fôlego”, observa a cineasta, que, com este projeto, entre FAC e Ancine, gerou 200 empregos durante cinco semanas de novembro e dezembro de 2017. Flertando com o universo da psicanálise, o longa é um retrato visceral sobre esse tema delicado que é a depressão feminina e suas nuances soturnas.
No meio do caminho, um assunto espinhoso: o suicídio. Para compor esse painel tenso entre os desvãos da alma e do inconsciente da mulher, o filme conta com elenco de tirar o fôlego. Além da poetisa Elisa Lucinda, faz parte do cast, dentre outros, Bárbara Paz, Carolina Monte Rosa, Cristiana Oliveira e Maria Paula, assim como a cineasta e psicóloga.
“A partir dessa experiência e de outras histórias reais, construí uma história que me permitiu trazer muitas questões para o debate”, conta Cibele. “Ali atendi muitas mulheres e vi o quão presente é a ideação suicida na vida de muitas mães, esposas, trabalhadoras. Pessoas que vão tocando a vida sem ter com quem falar sobre suas questões afetivas, psicológicas”, lamenta.
Premiada quatro vezes em Gramado, em 2004, com o divertido curta, “Momento Trágico” – entre eles com o Kikito de Melhor Direção – e convidada duas vezes como jurada da mostra, a diretora fala sobre a relevância do evento. “Eu amo o Festival de Gramado. É um festival que tem muito prestígio de público e da imprensa”, avalia. “Traz um reconhecimento para o nosso trabalho. E isso é importante demais para continuar persistindo nessa carreira”, pondera.
Cine Ceilândia
Cineastas de Ceilândia e admiradores do trabalho de outro nome de peso das artes da cidade – o premiadíssimo diretor, Adirley Queirós, Nathalya Brum e Augusto Borges acreditam que estar em Gramado é uma vitória dos artistas que estão à margem do sistema. O trabalho que os dois realizaram concorre a oito categorias, entre elas Melhor Curta, Direção e Roteiro. Não é pouca coisa.
“É um festival historicamente elitizado. Ter um filme de periferia, feito por pessoas da periferia, com uma equipe reduzida, totalmente independente, é imensurável”, vibra Borges.
“Serve para mostrar para o pessoal que está começando, principalmente os que são de periferia, que é um sonho possível, o pessoal de periferia está fazendo audiovisual”, reforça Nathalya.
E a premissa de “Wander Vi” não poderia ser mais outsider. Com pouco menos de 20 minutos, narra a trajetória desse jovem talento da cidade de
Ceilândia que se desdobra entre as diabruras da vida real e o sonho de ser artista. Batalhador, Wanderson descobriu o dom para artes na escola, com uma professora de teatro. Dali para a música, uma paixão genuína, foi um piscar de olhos. Assim, das 21h às 6h, tira o sustento do lar como auditor de mercadorias num grande atacadista. Durante o dia, com muita tenacidade, vai bicando para sair do ovo, luta por um lugar ao sol, praticando dança, teatro e fazendo música.
“É magnífico estar no palco, sentir a arte”, não titubeia. “A gente sempre acompanhou muito o Wanderson, sempre soubemos que ele é um ótimo artista, a motivação para esse trabalho é saber que ele é essa pessoa incrível, um jovem com força de vontade e determinação”, elogia o diretor Augusto Borges.
“Meu nome é Wanderson, tenho 22 anos, sou negro, gay, moro na Ceilândia, sou pobre… e sou feliz”. É assim, de forma direta e sincera, que se apresenta um jovem talento da periferia do Distrito Federal. Para viabilizar seu projeto de ficar famoso e colocar a carreira de artista nos trilhos da fama, o resiliente Wanderson/Wander Vi não para.
Estúdio Social
Desde o ano passado faz parte do projeto Estúdio Social, iniciativa que conta com apoio de Termo de Fomento no valor de quase R$ 500 mil, celebrado pela Secec.
O projeto, idealizado pela Organização da Sociedade Civil, Instituto Blaise Pascal (IBP), tem como objetivo incentivar cantores autores da cidade a não só registrar em gravações e vídeos seus talentos, mas também a seguir nessa carreira.
“É um grande presente para todos participantes”, constata Wanderson. “Abriu meus olhos para o mercado musical, para a questão dos direitos autorais, mostra ao artista como ele deve se comportar diante do mercado, dá essa base para quem está começando”, explica.
48º Festival de Cinema de Gramado
de 18 a 26 de setembro
Exibição dos filmes da mostra competitiva pelo Canal Brasil e redes sociais
“Por que você não chora?”, 18/9, às 20h30
“Wander Vi”, 21/9, às 20h
Confira a programação completa (clique aqui)
Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa