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Da horta ao tai chi chuan: Caps de Samambaia amplia espaços terapêuticos

Processos desenvolvidos pelos profissionais da unidade melhoram o bem-estar e a saúde mental dos pacientes

Instalada na área lateral da unidade, a horta conta com plantação de pimenta,
tomate, couve, alface, pimentão e coentro. O próximo passo, em um outro
espaço, será cultivar abóbora, berinjela, melancia e maxixe
Fotos: Breno Esaki/Agência Saúde-DF

Responsável pelo acompanhamento de 5,6 mil pacientes, o Centro de Atenção Psicossocial III de Samambaia (Caps) ampliou os espaços terapêuticos, com adaptações por conta da pandemia de covid-19. Agora, além do atendimento tradicional nos consultórios, os pacientes podem voltar a participar de oficinas como de tai chi chuan, tecelagem, automassagem, artesanato, serigrafia, yoga, horta e fitoterapia. As atividades são realizadas sob o olhar atento dos profissionais de saúde mental, que utilizam as atividades como momentos de terapia.

“Eu gosto. Ocupa a mente, e ocupar a mente é algo muito importante para nós”, conta Ana Vládia, de 36 anos. Acostumada ao plantio desde a infância, ela agora vai ao Caps III de Samambaia para auxiliar no cultivo de pimenta, tomate, couve, alface, pimentão e coentro. Com a área lateral da unidade de saúde já destinada à horta, ela agora planeja utilizar um espaço no fundo do terreno para iniciar as culturas de abóbora, berinjela, melancia e maxixe. Toda a produção fica com os pacientes.

52servidores, entre médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e técnicos de enfermagem, além dos voluntários, compõem a equipe das 18 oficinas do Caps III de Samambaia

“Os resultados são muito bons”, explica a gerente do Caps III, Valeska de Paula. Segundo ela, as 18 oficinas oferecidas são relevantes para auxiliar no diálogo com os pacientes e possibilitar melhorias no atendimento. “Em todas as oficinas e em todos os grupos nós temos um profissional de referência”, garante.

Hoje, a equipe é composta por 52 servidores, entre médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e técnicos de enfermagem, além dos voluntários.

Um deles é o Matheus Batista, estudante do último semestre de psicologia do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF). Ele está à frente das atividades com fitoterapia, um trabalho que começa na elaboração de mandalas até a preparação dos fitoterápicos, passando pelo cuidado com as plantas.

“O intuito é convidar a ter contato com a própria essência, para reflorescer a própria origem”, diz o estudante, que explica também ser cientificamente comprovada a relação entre atividades físicas e a saúde mental. “É também um momento de voltar o olhar para os aspectos lúdicos.”

Na prática, é o que parece acontecer com Vânia Porto. Há quatro anos em acompanhamento semanal pelo Caps III de Samambaia, ela exibe com orgulho as obras feitas na oficina de tecelagem. O cuidado para entrelaçar os fios e escolher as cores reflete na saúde mental. “Eu fico mais tranquila, menos estressada. Saio daqui feliz”, relata.

Mas não se trata apenas de criar as peças. Enquanto os fios tomam a forma de uma toalha de mesa, a conversa com a terapeuta flui. Na realidade, Vânia diz que já nem sabe mais se prefere a tecelagem ou a conversa. “Eu até já errei na peça. Mas a conversa é boa. A gente se sente bem melhor.”

Rede de Saúde Mental

O Caps III de Samambaia integra uma rede de 18 unidades de Centros de Atenção Psicossocial no DF, além do Hospital São Vicente de Paulo, que atua em casos mais severos. Nas quatro unidades de Caps no DF há leitos para acolhimento por períodos de sete a dez dias, porém o foco é proporcionar aos pacientes acompanhados a oportunidade de realizarem seus tratamentos enquanto continuam no convívio familiar ou mesmo profissional.

Por esse fator, nem todos fazem parte das oficinas. “O paciente muitas vezes não quer se envolver com a rotina. Também ocorre de ele poder voltar a sua rotina normal de trabalho, por exemplo”, explica a gerente Valeska de Paula.

A unidade atende prioritariamente pacientes de Samambaia, Recanto das Emas e de parte da Ceilândia, recebendo pacientes que chegam diretamente para avaliação ou são encaminhados pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS). O acolhimento é realizado, preferencialmente, de segunda-feira à sexta-feira, pela manhã às 7h e no período da tarde, às 13h. O foco são os pacientes adultos com transtornos mentais graves e persistentes.

*Com informações da Secretaria de Saúde do DF