Reeducandas atuam em espaços da Novacap, por meio de uma parceria com a Funap-DF
A sociedade tem buscado alternativas eficazes para reintegrar pessoas privadas de liberdade ao convívio social. Entre as estratégias mais promissoras, o trabalho se destaca como uma ferramenta essencial para a construção de novos caminhos. Um exemplo inspirador dessa transformação está nos viveiros de plantas da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), onde mulheres em processo de ressocialização encontram a oportunidade de reconstruir suas vidas. Ali, elas aprendem a cuidar não apenas da terra, mas também de si próprias, semeando esperança de um futuro próspero.
Maria Silva (nome fictício), de 32 anos, chegou ao sistema prisional há três anos e encontrou nos viveiros a chave para um recomeço. Ela compartilha, emocionada, como o trabalho tem transformado sua vida: “Aqui aprendi a cuidar das plantas e, mais importante, aprendi a cuidar de mim mesma. Quando cheguei, não sabia como seria possível seguir em frente. Hoje, vejo meu futuro de uma forma diferente. O trabalho me trouxe uma nova perspectiva”.
A parceria com a Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap) começou em 2017, quando 12 participantes passaram a atuar na Novacap. Atualmente, quase 80 reeducandas prestam serviço nos dois viveiros da companhia. “Pretendemos aumentar nos próximos meses. Já há tratativas em torno disso”, comenta a chefe da Divisão de Agronomia da Novacap, Janaina González.
Essas mulheres se dedicam ao cultivo e à produção de mudas de espécies nativas e ornamentais. Mais do que aprender sobre jardinagem, elas adquirem habilidades essenciais para sua reintegração à sociedade após o cumprimento das penas.
Maria, assim como as demais colegas, trabalha de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, com uma hora de intervalo. Ela participa de todas as etapas do processo, desde a semeadura, o enchimento de sacos com terra adubada até a montagem das “bandejas” com mudas prontas para transporte. Além do aprendizado técnico, o trabalho em equipe a impactou profundamente. “Nos ajudamos mutuamente; no final, não estamos apenas cultivando plantas, estamos cultivando nossa própria transformação”, afirma.
Foco na mulher
Apenas mulheres trabalham nos viveiros. Essa escolha, além de estratégica, é humanitária. Projetos de ressocialização voltados ao público feminino são raros, o que torna essa iniciativa uma oportunidade singular de recuperação, autodescoberta e reconstrução da dignidade. Atividades como o cultivo de mudas exigem paciência, dedicação e atenção aos detalhes – qualidades que muitas mulheres têm naturalmente.
“Anualmente, os dois viveiros da Novacap desenvolvem mais de 80 espécies de flores, 300 espécies de arbustos e mais de 200 tipos de árvores”, afirma o presidente da Novacap, Fernando Leite. “Plantamos milhares de mudas de árvores por ano, e este ano planejamos uma grande ação para deixar a cidade ainda mais verde e florida.”
Atualmente, os viveiros produzem cerca de 3.564 mudas por dia, resultando em milhares de mudas mensais destinadas a projetos de arborização.
Impacto no processo de ressocialização
O trabalho nos viveiros vai além da capacitação técnica. Ele oferece uma chance de independência, fortalecimento da autoestima e renovação de perspectivas. Para mulheres muitas vezes esquecidas pela sociedade, cultivar plantas simboliza a possibilidade de florescer novamente.
“Esse trabalho não apenas melhora a qualidade de vida das reeducandas, como impacta a sociedade. Aqui eu tenho uma reeducanda que está há mais de sete anos comigo. Tenho muito orgulho de ver as árvores que plantamos e de contribuir para uma cidade mais bonita”, enfatiza a responsável pelos viveiros, Janaina González.
Para Maria, o trabalho na Novacap deu uma nova perspectiva. “Aqui, aprendi a ser mais responsável e a entender que tenho um papel a desempenhar na sociedade. Eu não sou só mais uma pessoa no sistema, eu sou capaz de mudar, e isso faz toda a diferença para quem, como eu, sentiu que não havia mais esperança”, conta. “Aqui me chamam pelo nome e me sinto alguém”. Além disso, destaca que, com o valor da bolsa-auxílio, consegue se manter e ajudar em casa na criação dos filhos.
“A Funap acredita no poder transformador do trabalho. Quando oferecemos às reeducandas oportunidades como essa nos viveiros da Novacap, não estamos apenas contribuindo para o embelezamento da cidade, mas também plantando as sementes da ressocialização e da esperança. Cada muda cultivada representa um passo em direção a uma nova história de vida, tanto para elas quanto para a sociedade como um todo”, enfatiza a diretora-executiva da Funap, Deuselita Martins.
Por Agência Brasília, com informações da Novacap | Edição: Ígor Silveira