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Alunos com altas habilidades têm atendimento especializado na rede pública do DF

Nova reportagem da série dedicada ao Dia da Pessoa com Altas Habilidades e Superdotação destaca os bastidores do atendimento a estudantes com AH/SD no Distrito Federal

 

Na Secretaria de Educação (SEEDF), o Atendimento Educacional Especializado (AEE) prestado ao aluno com altas habilidades/superdotação (AH/SD) é de responsabilidade da Gerência de Atendimentos Educacionais Especializados (Gaesp) da Diretoria de Educação Inclusiva e Atendimentos Educacionais Especializados (Dein), vinculada à Subsecretaria de Educação Inclusiva e Integral (Subin).

“A gente trabalha com todo tipo de linguagem”, explica o professor Leandro Vasconcelos Nunes Monteiro (D), com a aluna do CEF 08 de Sobradinho Maria Clara Costa Silva | Foto: Felipe Noronha/SEEDF

“O compromisso da SEEDF com o atendimento aos alunos com altas habilidades/superdotação reflete nossa convicção de que cada estudante possui um potencial único a ser desenvolvido”, afirma a subsecretária de Educação Inclusiva e Integral, Vera Lúcia Ribeiro. “Por meio das salas de recursos específicas, os estudantes recebem o apoio necessário para potencializar seus talentos e habilidades acadêmicas, artísticas e atléticas, com profissionais habilitados e capacitados, dispondo de uma estrutura adequada para atender às necessidades específicas de cada aluno”.

Salas de recursos

As salas de recursos específicas de AH/SD são organizadas em polos com as turmas da área acadêmica ou de talento artístico, conforme a demanda. Além disso, as equipes de AH/SD de cada coordenação regional de ensino (CRE) devem contar com um psicólogo especialista para atender todos os estudantes do polo e familiares. O atendimento, previsto para alunos desde os primeiros anos da educação infantil até o último ano do ensino médio, incluindo a Educação de Jovens e Adultos (EJA), ocorre uma vez por semana, no contraturno, com a duração de quatro horas.

Para ingressar no AEE e frequentar a Sala de Recursos Específica, o aluno deve ser identificado com AH/SD. O processo de identificação desses estudantes tem início na observação de comportamentos sugestivos, o que leva a uma posterior indicação ao AEE. A indicação ao AEE pode ser feita pelo professor ou familiares do aluno, sendo formalizada por uma ficha de indicação que deve ser entregue na CRE pretendida ou em um polo de atendimento.

As alunas do 6º ano do CEF 08 de sobradinho, Pyetra Eduarda Souza dos Anjos, 11, e Ester Pessoa de Sousa, 12, solicitaram à direção da escola participação na Sala de Recursos de Robótica. A professora itinerante fez a indicação e, atualmente, elas estão em processo de avaliação. Se forem identificados os comportamentos sugestivos de AH/SD, poderão frequentar o atendimento especializado até o final do ensino médio. Ester, que quer ser advogadas criminalista, gosta de construir robôs com peças de LEGO. “Fez mais ou menos um mês que eu venho para cá”, conta. “Venho quando tem aula vaga e fico fazendo robótica. Eu queria participar do torneiro do FLL (First LEGO League)”.

Talentos

Já na Sala de Talentos, Maria Clara Costa Silva, 16, aluna da 2ª série do ensino médio, foi indicada por uma professora em 2022. “Eu estava no 9º ano do ensino fundamental”, relata. “Uma vez, estava mexendo nos meus desenhos, e uma professora de Geografia pediu para vê-los, e aí me indicou. Eu preenchi um formulário e depois vim fazer a entrevista com o meu pai. Eles me aceitaram na hora”. Com os recursos materiais, o convívio com outros alunos com interesses semelhantes e a orientação do professor, ela viu suas habilidades atingirem novos patamares. Para o futuro, Maria Clara pretende ingressar na Universidade de Brasília (UnB) e se dedicar a algum curso relacionado a artes.

Após o início do atendimento, o estudante passa por um período de observação, de quatro a 16 semanas, em que são avaliados os comportamentos sugestivos de altas habilidades/superdotação. Para essa avaliação, é utilizada como referência a Teoria dos Três Anéis, de Joseph Renzulli, segundo a qual, para a pessoa ser considerada com as altas habilidades, ela deve ter muita facilidade em alguma área, estar engajada nessa atividade e demonstrar comportamentos criativos dentro dessa área de interesse. Se, depois dos 16 encontros, as altas habilidades/superdotação forem identificadas, o aluno permanecerá no AEE até o final do ensino médio.

Os alunos matriculados em unidade escolar da rede privada de ensino passam por um processo semelhante. Devem preencher a ficha de inscrição e encaminhá-la para a CRE localizada na mesma região administrativa onde o estudante reside. Depois, devem aguardar o contato do professor itinerante, para que o processo de avaliação seja indicado.

Experiência transformadora

Nayara Dias de Menezes relata como o atendimento especializado mudou a vida escolar de seu filho Rafael, hoje no 3º ano do ensino fundamental. O garoto frequenta a Sala de Recursos do CEF 08 de Sobradinho desde 2022, após um período desafiados em que se recusava a ir à escola. “Consegui o contato com uma professora que me encaminhou à coordenadora de Altas Habilidades/Superdotação”, lembra.

“Iniciamos o processo quando Rafael tinha 5 anos, mas, devido à pandemia e às vagas limitadas para alunos de escolas particulares, ele só começou o atendimento aos 7 anos”, rememora. “O atendimento foi fundamental para a autoestima dele, ajudou-o no reconhecimento entre seus pares e potencializou suas habilidades. Houve uma redução significativa da ansiedade e um desenvolvimento da autonomia criativa. O acolhimento é essencial. Ter um filho com altas habilidades traz desafios diários, principalmente nos aspectos emocionais e sociais.”

Equipe especializada

Para atender esses alunos, há mais de 80 profissionais especializados da rede pública do DF, entre professores das áreas específicas, psicólogos e professores itinerantes. O professor da Sala de Recursos passa por processo de aptidão e atua de acordo com a sua habilitação. Atualmente há salas de recursos específicas de AH/SD nas áreas de ciências humanas, linguagens, matemática e artes.

“Dentro da sala, a gente trabalha com todo tipo de linguagem”, explica o professor Leandro Vasconcelos Nunes Monteiro, que leciona Artes Visuais na Sala de Recursos de Talentos do CEF 08 de Sobradinho desde 2012. “A gente trabalha com animação, com estrutura, com modelagem, pintura e, inclusive, computação gráfica, que é bem presente agora.” Atualmente, ele atende cerca de 50 alunos entre 11 e 18 anos, do 6º ano do ensino fundamental até a 3ª série do ensino médio.

“Estudantes com altas habilidades vivem um mundo interno rico e complexo”, detalha a psicóloga Maria Luiza Macedo, do CEF 08. “Essa percepção aguçada os torna mais sensíveis a nuances e emoções, o que pode gerar desafios como ansiedade e dificuldades de socialização. Muitas vezes, sentem-se incompreendidos por seus pares e carregam a responsabilidade de sempre serem os melhores. No meu trabalho, busco criar um espaço seguro para que expressem seus sentimentos e desenvolvam habilidades para lidar com as altas expectativas e as comparações constantes. A parceria com os pais é essencial para garantir um acompanhamento integral e eficaz.”

Professor itinerante

Também ganha destaque nesse processo o professor itinerante, que atua como articulador entre os diversos segmentos da comunidade educacional, estabelecendo conexões estratégicas entre a Diretoria de Educação Especial, as salas de recursos, as unidades escolares, as famílias e as CREs. Seu papel abrange tanto o suporte pedagógico quanto o administrativo, sendo fundamental na coleta e análise de dados, no acompanhamento individualizado dos estudantes e na orientação especializada a professores e familiares.

Para exercer a função de professor itinerante, é necessário possuir formação específica em AEE, com ênfase no trabalho com alunos superdotados. Além da formação, o profissional deve obter uma concessão de aptidão para atuar na educação especial, particularmente nas salas de recursos para altas habilidades/superdotação. Esta concessão é feita por uma banca examinadora, durante o processo de concurso de remanejamento.

Famílias participam

“O atendimento ao estudante com AH/SD é um assunto que tem entrado na pauta, não só das escolas, mas das famílias também”, pontua a professora itinerante Rachel Souza Rabelo, do CEF 08 de Sobradinho. “São estudantes que precisam de uma suplementação curricular, pois seus interesses vão além dos conteúdos acadêmicos trabalhados em sala de aula.”

O trabalho, segundo ela, vai além do atendimento direto ao aluno: “Realizamos um apoio integral à família do aluno com AH/SD, abordando questões emocionais e orientando os professores do ensino regular sobre as necessidades específicas dessas estudantes e as adaptações necessárias em sala de aula”.

A diretora de Educação Inclusiva e Atendimentos Educacionais Especializados, Dulcinete Castro Nunes Alvim, ressalta a importância dessa interação: “Nós temos resultados fantásticos desses trabalhos realizados”. Segundo ela, os projetos desenvolvidos nesses atendimentos demonstram o potencial dos alunos em diversas áreas, como saúde, educação e tecnologia. A diretora assegura que esses jovens podem contribuir significativamente para a melhoria da qualidade de vida de toda a sociedade.

 

Por Agência Brasília, com informações da Secretaria de Educação | Edição: Chico Neto

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