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Uma vida de doação e amor ao próximo: conheça a Dona Aide

Ela encara o seu trabalho social como uma promessa feita à filha falecida, mas o que ela faz é muito mais do que isso.

Por Duane dos Reis

Uma história de amor, força e doação que se confunde com a história de Ceilândia. Inês Araújo dos Santos, a Dona Aide, é uma paraibana de 74 anos, que vive na região administrativa há quase meio século, levando alimentos, roupas e esperança a famílias necessitadas sem nenhuma ajuda governamental, como ela mesma gosta de destacar. Mensalmente, o Instituto Aide distribui, em média, 200 cestas básicas e centenas de peças de vestuário a moradores locais, principalmente de áreas mais carentes como o Sol Nascente/Pôr do Sol.

“A minha história é diferente, ela não começa comigo, começa com a minha filha”. Essa foi a resposta da Dona Aide para a nossa primeira pergunta: como começou a sua trajetória de ajuda ao próximo? Tímida, ela nos contou que a sua vida se transformou depois do pedido da sua filha no leito de morte. “Ela pediu que eu continuasse o trabalho dela e eu aceitei a missão”, relembra.

Dona Aide é símbolo de resiliência e amor. Quando um acidente de trânsito levou Márcia, sua filha, com apenas 18 anos de idade, ela pensou que não iria suportar, mas aos poucos percebeu que a filha estava aqui só de passagem. “Ela não era deste mundo, passou por aqui para deixar um legado e transformar vidas. Ela doava tudo que tinha a quem estivesse precisando sem pestanejar. Uma vez doou quase todas as minhas roupas para uma moça que passou pela nossa casa dizendo não ter o que vestir. Um mês antes de morrer, ela recebeu seu salário e 13º e deu absolutamente tudo. Ela era um anjo!”, lembra emocionada.

Entre uma pergunta e outra, descobrimos que a filha dela herdou, sim, o espírito bondoso da mãe. “Eu nasci numa família de classe média, não me faltava nada. Eu costumava distribuir sacos de arroz que minha família estocava no sótão para as pessoas necessitadas da cidade”, recorda.

Bingo! Encontramos a essência da Dona Aide: o amor ao próximo. É no meio dos inúmeros fardos de alimentos não perecíveis que ela se sente completa e nos presenteia com seu melhor sorriso. Ela tem um cômodo da casa que serve como depósito das doações mensais. “Eu recebo doação de algumas pessoas. Alguns empresários ajudam com alimentos, outros ajudam com roupas e calçados de ponta de estoque, e meus filhos (ela tem outros cinco) também contribuem com o que podem”, explica olhando para uma montanha de sacolas. O que ela não fala é que tira dinheiro do próprio bolso e até alimentos da própria dispensa para completar a meta mensal de doações. Seus amigos e ajudantes Lelio e Selma é que nos alertaram para mais essa doação da Dona Aide.

As doações acontecem uma vez por mês, sempre aos sábados, na casa da Dona Aide e na sede do Instituto. “Na manhã das entregas, amanhecemos com uma fila aqui em frente e precisamos organizá-la por senhas”, comenta. Além de buscar os alimentos e as roupas, as famílias podem se deliciar com um café da manhã: pão, mortadela, café e refrigerante.

Luta social

Passamos pouco menos de duas horas com a Dona Aide e não precisou muito para entender que ela é parte da cidade. Sentada com vista para a calçada, ela acena e é cumprimentada por 90% dos passantes, sem citar aqueles que entram para apenas lhe dar um abraço. Pessoas que já receberam ajuda sentem-se gratas e auxiliam como podem na missão dela.

Muito mais do que comida e vestimentas, ela escuta todos os pedidos e luta para poder ajudar. “Eu recebo muitas demandas diferentes: emprego, consulta e remédios são algumas delas. Olhe esse aqui – ela pega o celular e nos mostra uma conversa –, está precisando de um remédio”. Ela conhece desde o morador mais simples até as autoridades do Distrito Federal. Foi ela quem levou o atual Governador Ibaneis Rocha a todos os cantos de Ceilândia, ou buracos como ela diz, durante a campanha eleitoral em 2018. Ela tem contato direto com o Superintendente de Saúde, com o Presidente do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal, com secretários de Estado e com a Polícia Militar da região. “Sou madrinha do Quartel da PM daqui, tenho um carinho muito grande por seus componentes”, conta.

Ela também dirige o Conselho Pró-Ceilândia, uma entidade que ela criou há mais de 30 anos para lutar por benfeitorias para a região. “Essa rua foi uma luta nossa. Quando cheguei aqui era só mato e lama, as pessoas precisavam dar uma volta para tudo”, destaca. Ela também “compra brigas maiores” e defende os interesses de categorias que precisam de voz junto ao governo.

E quem pensa que ela se sente cansada ou que a idade a atrapalha em alguma coisa está muito enganado. A sua vitalidade é invejável e nos faz pensar se tanta doação e tanto amor ao próximo são a fonte da juventude e paz de espírito. Na dúvida, Dona Aide convida todo mundo para conhecer o seu trabalho e ainda deixa seu número de telefone para quem quiser ajudar e sentir um pouco do que ela diz ser a sua energia.

 

 

A Dona Aide prefere receber alimentos e roupas ao invés de dinheiro.

Quem quiser doar arroz, feijão, café, óleo, açúcar e outros itens não perecíveis pode entrar em contato com o Instituto pelos telefones:

61 3373-4205 ou 61 98440-3097

 

 

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