Promovido desde 2013, o evento já figura como uma das mais importantes promoções sobre a cultura nipônica
Durante o feriado de 7 setembro, moradores de todo o DF e entorno dirigiram-se ao Centro Interescolar de Línguas (CIL) do Gama para prestigiarem o 9º Nihon Matsuri, o festival japonês da instituição. Promovida pelo trabalho voluntário de professores, estudantes e ex-alunos, esta edição chegou a receber mais de 700 pessoas, entre organizadores e visitantes.
A festa beneficente, que teve como tema deste ano o “Outono Japonês” e a lenda do Coelho na Lua, é realizada desde 2013 com o objetivo de arrecadar fundos para o curso do idioma. A programação é diversificada com a apresentação de grupos locais, concursos de cosplay, shows tradicionais da cultura nipônica e ainda tem a presença de restaurantes e lojas que oferecem pratos tradicionais e produtos famosos do leste asiático.
Segundo Veryanne Couto, 35, a sensei que leciona as aulas de japonês e principal responsável pelo Nihon Matsuri, o festival já é tido como um dos 10 principais do tipo no DF. “Todo o trabalho aqui é voluntário. Quem está aprendendo o idioma, quem já se formou e até universitários da UnB ajudam. Assim, promovemos o evento que já está se tornando um dos mais esperados de Brasília”, disse.
Para ela, não se trata apenas de uma atividade do curso, mas também uma oportunidade de mostrar a rica cultura trazida por produções audiovisuais e imigrantes japoneses. Um momento em que os brasileiros entusiastas com as crenças e hábitos vindos, principalmente do Japão, se unem àqueles que fizeram do Brasil o seu lar.
“A comunidade nipônica abraça o festival de tal modo que, dentre os grupos que se apresentam aqui, há imigrantes que ainda falam apenas o japonês. Eles vêm mostrar aos visitantes um pouco de sua terra natal e aproveitam também para reviver estes costumes”, afirmou a professora.
Ao longo do evento, foram disputadas competições de cosplayers, dadas aulas de krav magá, apresentada exposição de action figures, feitas demonstrações de danças de J-pop e K-pop e também a apresentação do coral do Cil Gama, que é formado por alunos e professores da instituição.
A importância das festas na periferia de Brasília
Robert Charlton, 22, é morador do Gama e cosplayer há 1 ano. Ele, que foi ao festival caracterizado como o personagem Ryomen Sukuna do anime Jujutsu Kaisen, contou que sempre teve de ir ao Plano Piloto ou à Taguatinga para participar dos eventos de anime.
“Além de não precisar arcar com os custos e todas as dificuldades que envolvem o deslocamento, me sinto mais tranquilo por estar perto de casa”, expressou Robert. “Não tenho que me preocupar tanto com o horário de voltar e, sendo aqui, ainda posso ver mais amigos que não podiam comparecer quando o rolê era longe”.
A atriz e dubladora Roxxy Sant’Anna, 31, foi uma das atrações do Nihon Matsuri e conversou com o público sobre a importância da valorização da cultura local. Ela, que tem um currículo de relevância nacional e já dublou de filmes e séries a jogos e propagandas, compartilhou um pouco de sua experiência pessoal.
“As pessoas não falam, mas Brasília é uma cidade extremamente cultural. Todo mundo conhece uma amiga pintora ou tem uma vizinha que é musicista, por exemplo. O que falta, para muitas de nós, é a oportunidade. Na dublagem, nossa cidade tem se destacado, mas ainda não é reconhecida dessa forma pelos próprios brasilienses”, explicou ela.
Tradições japonesas continuam vivas no Brasil
O Nihon Matsuri proporcionou uma verdadeira imersão na cultura japonesa, com apresentações que encantaram o público e salas temáticas desenvolvidas pelos alunos. Entre os destaques, estiveram os lutadores da academia Budokan, Kazokukai e da Federação de Karatê, que demonstraram o Kobudô e o Karatê, artes marciais que combinam o uso do corpo e de armas tradicionais. A equipe, formada por atletas de diversas idades, mostrou habilidade e disciplina, impressionando os espectadores.
Mas foi a dança Bon Odori, apresentada pelo grupo Koharu Shigure, que emocionou o público ao celebrar a conexão entre tradição e amizade. A integrante Suely Haruko explicou que o Bon Odori é mais do que uma homenagem aos antepassados.
“Nós preservamos esse costume vivo com muito amor. O nosso grupo já está na segunda geração, com mães e filhos participando”, contou. Ela destacou que o grupo se reúne há mais de 20 anos e que a dança é uma forma de manter laços. “Eu comecei este ano, nunca tinha dançado antes, e me sinto acolhida”, revelou.
O Bon Odori tem um papel importante na vida dessas mulheres, muitas delas já na terceira idade. Suely comentou que algumas integrantes, mesmo em cadeiras de rodas, continuam participando, sendo levadas pelas filhas. “É uma forma de praticar algo prazeroso e recordar a cultura, ao mesmo tempo que cultivamos nossa amizade”, concluiu.