Política

Aleitamento Materno Ganha Reforço em Audiência Pública

Leandro Grass defendeu a inclusão das lactantes no grupo prioritário da vacinação contra o novo coronavírus e citou que estudos vêm demonstrando efeitos positivos na imunização de crianças

Leandro Grass defendeu a inclusão das lactantes no grupo prioritário da vacinação contra o novo coronavírus e citou que estudos vêm demonstrando efeitos positivos na imunização de crianças
Foto: Reprodução/TV Web CLDF

Depois de um histórico de conquistas relacionadas ao aleitamento materno, o Distrito Federal precisa incrementar políticas que visam ao método natural de alimentação de bebês. Esta é a conclusão de audiência pública da Câmara Legislativa que discutiu a questão, no âmbito do Dia Internacional de Proteção da Amamentação, comemorado nesta data (21). A iniciativa foi do deputado Leandro Grass (Rede) e reuniu especialistas, representantes de entidades públicas, privadas e da sociedade civil.

O depoimento emocionado de uma mãe que, ao tempo em que amamenta um bebê, está grávida do segundo filho, resumiu as dificuldades do aleitamento em várias dimensões. Lilian Rocha, médica, contou que “se preparou para o parto e não para a amamentar”. Na sua avaliação, “as mulheres entram no pós-parto sem conhecimento, confiando que haverá um sistema de proteção”. Contudo, depois de encontrar apoio – “o que nem sempre é possível para todas” –, ela percebeu que há despreparo dos profissionais e conflito de interesses com a indústria alimentícia. Hoje, está engajada na luta a favor do direito ao aleitamento materno “que, além de amor, traz crescimento”.

Para o deputado Leandro Grass, que, entre outras medidas, está propondo a instituição do Dia Distrital de Incentivo ao Aleitamento Materno, com o objetivo de ampliar a difusão do tema, um ponto importante neste momento é a inclusão das lactantes no grupo prioritário da vacinação contra o novo coronavírus, dado que estudos vêm demonstrando efeitos positivos na imunização de crianças. Além disso, ratificou a atenção que deve ser dada à situação de mulheres que não têm ocupações formais e, por isso, deixam de ser beneficiadas pela licença maternidade.

Representante da Rede IBFAN, sigla em inglês para a Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar, a pediatra Sonia Salviano lembrou as quatro décadas de oficialização desta cadeia de proteção, na qual o país se engajou desde o início. O trabalho desenvolvido em Brasília pela Sociedade de Pediatria, citou a médica, foi reconhecido mundialmente. Depois de apresentar um panorama do desenvolvimento da legislação sobre o tema no Brasil e no DF, defendeu a importância da volta do uso exclusivo de leite materno nas unidades de saúde. “Precisamos compreender que luta é árdua e que vale a pena”, completou, apoiando a imunização das mães.

Competição impossível

Falando em nome da Secretaria de Saúde, Miriam Santos lamentou que “um ato tão natural precise de proteção” e comentou notícia recente sobre uma mãe que foi agredida, na França, porque estava amamentando em público. Também criticou o que considerou “excesso de marketing abusivo” das redes sociais, que “vende produtos que competiriam com o leite materno, como se fosse possível”. E salientou a queda, por dois anos seguidos, dos índices gerais de mortalidade infantil no Distrito Federal.

Responsável pelo programa de leite humano do Corpo de Bombeiros do DF, que já obteve reconhecimento internacional do Unicef, a major Lorena Athaydes discorreu sobre a atividade de coleta e frisou o sentido de acolhimento e de aproximação dos profissionais bombeiros com as doadoras. “Foram quase 18 mil litros de leite recolhidos no ano passado, um aumento de 7%”, comemorou. Ela informou que o contato com a corporação para este fim, além da obtenção de informações, pode ser feito pelo telefone 160 (opção 4) ou pelo site “Amamenta Brasília”.

Órgãos de fiscalização, a Vigilância Sanitária e o Procon foram representados por André Godoy e Marcelo Nascimento, respectivamente. Godoy relatou o trabalho desenvolvido e tratou das dificuldades de monitoramento do marketing de alimentos destinados aos bebês. “Apesar de não poder existir, ainda encontramos em diversos estabelecimentos, como farmácias, comparações com o leite materno”, acrescentou. Nascimento, por sua vez, corroborou a pressão da indústria, disse que os fiscais deparam com “produtos não apropriados para o consumo humano e contendo problemas de rotulagem, que tentam induzir as mães” e agradeceu o apoio da Polícia Civil nas ações do Procon.

A nutricionista Renata Monteiro, professora da Universidade de Brasília, propugnou que “um direito garantido pela Constituição não pode ser privilégio de algumas mães”. Por isso, em sua análise, é preciso proteger a mulher, o recém-nascido e a família. Em nome da Câmara de Mulheres da Fecomércio, Beatriz Guimarães comentou sobre a relação de afeto e cuidado contida no ato, evidenciando “a questão emocional, além da saúde, de um momento que deve ser preservado”. Entre outras sugestões, sugeriu uma campanha institucional de mobilização sobre a temática envolvendo o setor público e privado, bem como toda sociedade.

Nesta linha, a deputada Júlia Lucy (Novo), titular da Procuradoria da Mulher da CLDF, reafirmou as dificuldades de premiar empresas que garantam o direito do aleitamento às funcionárias e adiantou que “Cantinhos da Amamentação” serão criados, até o final deste ano, em algumas escolas públicas do Distrito Federal. “A Câmara Legislativa também ganhará seu espaço, pois é preciso evitar constrangimento às mães e garantir um ambiente limpo e discreto”, justificou. Fonte: Marco Túlio Alencar – Agência CLDF