Educação Meio Ambiente

Colégio público em Brazlândia se destaca por adaptar aulas à realidade dos alunos

Escola Parque da Natureza recebe estudantes de nove unidades de ensino da região — a maior parte, da zona rural — e aposta na educação ecológica e na valorização do território

 

“Educação é uma troca.” A frase de uma professora resume o espírito da Escola Parque da Natureza, em Brazlândia. Embora estejam lá para aprender, as crianças têm as próprias vivências, que merecem ser respeitadas e valorizadas.

“A Escola Parque da Natureza de Brazlândia é diferente, porque a gente considera que ela tem alma. Ela não é uma escola que nasceu do acaso, ela já nasceu com um propósito. A missão dela é inovar em termos de emancipação humana por meio do desenvolvimento do sentimento de pertencimento ao território”, explica a supervisora da unidade, Edinéia Alves.

De fato, o colégio é bem diferente do padrão. Quase todas as aulas ocorrem em espaços abertos. Em vez das tradicionais português e matemática, as disciplinas — ou estações, como são chamadas — são: jogos cooperativos; arena circense; artes visuais; brasilidades; expressão corporal; jogos teatrais; educação musical; e alfabetização ecológica. “As coisas funcionam de modo interdisciplinar, não tem um limitante. E a educação ambiental é transversal em todas as estações”, aponta o coordenador Hernando Araújo.

Essa forte presença da educação ambiental está ligada à valorização do território. Brazlândia é uma das regiões com maior área e maior produção rural do Distrito Federal. Tanto que, dos 770 estudantes atendidos pela unidade, cerca de 70% vivem no campo — o que faz com que a Escola Parque da Natureza, ainda que esteja em uma área urbana, seja considerada uma escola do campo.

Assim como nas demais Escolas Parque fora do Plano Piloto, os alunos da educação infantil até o 5º ano do ensino fundamental têm aulas regulares em outras unidades e vão à Escola Parque da Natureza uma vez por semana. Nove colégios são atendidos — sendo sete de áreas rurais —, em dois turnos, às segundas, terças e quintas-feiras.

“Grande parte dos nossos estudantes é do campo, então é uma experiência muito bacana, uma troca muito bacana. E tem esse trabalho de pertencimento, de reconhecimento da nossa história, dos nossos valores. Não é só valorizar o que é de fora, mas daqui de dentro”, resume Dayane de Oliveira, professora da estação de Jogos cooperativos.

Atividades

Ainda na questão da valorização, na escola são desenvolvidas diversas atividades que exaltam as diferentes características físicas dos alunos. Em uma delas, por exemplo, os estudantes usaram terra misturada a tinta para que cada um encontrasse o próprio tom de pele. O resultado ficou marcado nas paredes do colégio e além delas também: um dos objetivos é plantar a semente nas crianças para que a conscientização chegue aos pais.

“É um trabalho de formiguinha, mas o primeiro passo tem que ser dado e aqui a gente dá o primeiro passo, a gente ensina, a gente mostra. Alguns já reproduzem [em casa] e eu acho isso muito bacana, porque eles trazem relatos da vivência deles e a gente também tenta adaptar. Aqui não é isolado, os meninos não estão aqui de forma isolada, a gente não trabalha de forma isolada. Eles trazem a vivência deles — nas chácaras, principalmente — e a gente pode retribuir isso de alguma outra forma. E assim vai sendo passado. Os saberes vão sendo passados”, pontua a professora de Alfabetização ecológica Martha Kivia — a que diz que “educação é uma troca”.

E mesmo gostando do viés lúdico das atividades, os estudantes sabem que estão aprendendo bastante com elas. “Eu gosto [da estação] de brasilidades, porque a gente aprende mais sobre o nosso país e aprende coisas novas”, conta Kauã Moraes, 10 anos. Johnathas Santos, 10, é outro que tem essa estação como preferida: “Gosto do tambor, que conheci aqui”.

Já Vitória Gomes, 9, destaca que a escola “tem um monte de atividades legais”, mas não esconde a preferência pelas artes visuais, assim como Rafaela Andrades, 11, que exalta a lição sobre os tons de pele. “A gente pinta várias coisas. Na [atividade sobre a] consciência negra, a gente pintou a folha da nossa cor, pintamos bonecos da nossa cor.” Maria Aparecida Mendes, 11, também prefere as aulas de artes, mas revela ter descoberto mais coisas novas na alfabetização ecológica: “Aprendi a plantar”. Tal qual Davi Luiz Dias, 10, que pretende usar os aprendizados para realizar seu sonho. “[Meus pais] falam que é para eu continuar assim que, logo logo, eu vou ser fazendeiro.”

 

Por Fernando Jordão, da Agência Brasília | Edição: Ígor Silveira