SaĆŗde

Hospital Regional de Santa Maria atende pacientes que precisam de reabilitação neurofuncional

Objetivo Ʃ conter as sequelas de doenƧas neurodegenerativas e AVCs

 

A vida pode mudar de uma hora para outra e sem menos esperar uma pessoa saudĆ”vel e ativa pode se ver em cima de uma cama precisando de ajuda para fazer todas as suas atividades. Ɖ assustador, mas acontece com uma frequĆŖncia muito grande. Os pacientes atendidos no ambulatório de fisioterapia neurofuncional do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) sĆ£o provas disso.

MƔrcia de Jesus, de 59 anos, passou por um acidente vascular cerebral (AVC) no inƭcio de 2020. Quando estava se recuperando, teve covid-19 na forma mais grave, ficou internada por 31 dias e, durante este perƭodo, sofreu outro AVC, tendo sequelas nos dois lados do cƩrebro. Ela perdeu a fala e todos os movimentos do corpo, saiu do hospital totalmente dependente e acamada.

MÔrcia de Jesus teve dois AVCs e covid-19 na forma grave. Atualmente, estÔ 80% recuperada e faz fisioterapia neurofuncional no HRSM | Fotos: Divulgação/ HRSM

Após quatro longos anos de tratamento em vÔrios hospitais do Distrito Federal, ela retomou a fala e jÔ sai sozinha de casa, utilizando a ajuda apenas de uma bengala, pois ainda não conseguiu ter o equilíbrio totalmente restabelecido. Por isso, hoje faz uma sessão por semana de fisioterapia neurofuncional no HRSM.

ā€œEu tenho uma gratidĆ£o eterna a Deus por estar viva hoje, jĆ” melhorei 80% ou mais. Eu tive sequelas do AVC e da covid no corpo inteiro ー nĆ£o conseguia falar, fiquei dependente de tudo. Pensei que eu fosse morrer porque sempre fui uma pessoa normal e ativa, independente. Fiz a minha reabilitação da fala toda aqui no Hospital de Santa Maria com a equipe de fonoaudiologia e voltei a falar. Ɖ ótimo nĆ£o depender de ninguĆ©m, conseguir falar. A vida Ć© um tesouro e temos que vencer todas as dificuldades e adversidadesā€, relata MĆ”rcia.

As sessões dela ocorrem com Michelle Xavier, fisioterapeuta da reabilitação neurofuncional do HRSM. Segundo a profissional, o caso de MÔrcia é de muito sucesso, tendo em vista que ela conseguiu a reabilitação do corpo e da fala e jÔ consegue fazer as atividades diÔrias.

ā€œHoje, a maioria dos pacientes que atendo sĆ£o os que sofreram AVC. Temos alguns com doenƧas neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer. No momento, um paciente oncológico pós-cirurgia de GBM (glioblastoma multiforme) apresenta sequelas motoras e cognitivas. Todos fazem cerca de dez a 20 sessƵes, mas a maioria retorna após a reavaliação mĆ©dica para continuidade do tratamento, entĆ£o voltam para a regulação e novamente para o ambulatório de HRSM ou onde houver vagaā€, explica Michelle.

A fisioterapeuta destaca que a maioria dos pacientes dela têm mais de 50 anos e ressalta que iniciar a reabilitação neurofuncional quanto antes é importantíssimo por conta da neuroplasticidade, tendo em vista que o cérebro continua se readaptando e reorganizando e tende a se adaptar ao que estÔ sendo treinado na fisioterapia.

Os atendimentos no ambulatório de fisioterapia neurofuncional ocorrem nas segundas-feiras, durante a tarde, e nas terças e sextas, o dia todo. Hoje, são cerca de 45 pacientes atendidos por semana, sendo 30 minutos a sessão.

ā€œAo avaliar, sempre pergunto a queixa principal do paciente para conseguir traƧar um objetivo de tratamento. Oriento os familiares para poderem auxiliar o tratamento nos horĆ”rios em que nĆ£o hĆ” terapia. Quanto maior o estĆ­mulo, maior a recuperação da funcionalidade. EntĆ£o, passo exercĆ­cios para serem feitos em casa tambĆ©mā€, informa.

Segundo a profissional, atualmente a demanda maior no HRSM é de pacientes que sofreram AVC ou acidente vascular encefÔlico (AVE). Também tem um perfil de pacientes mais dependentes, com comorbidades associadas e pacientes menos dependentes. A fisioterapia neurofuncional atua no tratamento e reabilitação de sequelas de diferentes complexidades e distribuições corporais tais como hemiplegias, paraplegias, cerebelopatias, disfunções vestibulares, parkinsonismo, polineuropatias, miopatias, doenças do neurÓnio motor, entre outras.

Uma conquista a cada sessão

Selma Santos, de 53 anos, teve um AVC após sofrer um infarto hÔ um ano e, além de perder a fala, ficou com o lado direito paralisado. Após acompanhamento na reabilitação neurofuncional, jÔ percebe as diferenças no dia a dia. Hoje, jÔ consegue andar e realiza o tratamento para melhorar a desenvoltura com o lado prejudicado.

Sebastião dos Santos sofreu um AVC hemorrÔgico e vem do Novo Gama (GO) para duas sessões semanais do tratamento no HRSM

Sebastião dos Santos, de 65 anos, sofreu um AVC hemorrÔgico hÔ oito meses e estÔ iniciando o tratamento com a reabilitação neurofuncional. Ele teve que utilizar dreno cerebral e ficou internado durante três meses. Como consequência, perdeu a fala, os movimentos do lado direito, não consegue se alimentar e faz uso de sonda de gastrostomia (GTT), além de ter prejuízo cognitivo. Ou seja, ficou totalmente dependente da esposa, Zélia Maria Coelho, de 56 anos, que se transformou em sua cuidadora.

ā€œEle nĆ£o comeƧou as sessƵes antes porque nĆ£o conseguia sentar, ficou totalmente acamado, só deitado. Fui fazendo alguns exercĆ­cios em casa com ele, atĆ© que agora ele fica na cadeira de rodas. EntĆ£o, consegui a vaga aqui e a ambulĆ¢ncia do municĆ­pio do Novo Gama busca a gente em casa, traz atĆ© o hospital e depois nos leva de novo, tudo com o auxĆ­lio de uma enfermeira porque transportar ele Ć© muito difĆ­cilā€, relata a esposa.

Zélia conta que o esposo sempre teve uma vida ativa e independente, que é triste vê-lo nessa situação, dependente de tudo. No entanto, acredita que, agora, com Sebastião fazendo a estimulação correta e os exercícios da fisioterapia, ela logo vai ver o marido mais independente.

ā€œDevido Ć  gravidade do caso dele, consegui marcar sessĆ£o duas vezes na semana. Antes, ele nĆ£o levantava, nĆ£o sentava, nĆ£o conseguia erguer o quadril. Eu fico impressionada com o avanƧo em tĆ£o poucas sessƵes. Os pacientes nos surpreendem e fico muito feliz com a evolução de cada um. Ɖ gratificante poder melhorar a qualidade de vida de uma pessoa e da famĆ­lia ao redorā€, afirma Michelle.

A fisioterapeuta destaca que, em casos de pacientes com doenças neurodegenerativas, ou seja, que a piora é progressiva, a fisioterapia neurofuncional ajuda a retardar a evolução da doença e promove uma melhor qualidade de vida.

 

Por Agência Brasília, com informações do IgesDF | Edição: Vinicius Nader