Tecnologia projeta legendas em tempo real, facilitando a comunicação durante procedimentos médicos
Gilson Batista Sousa Junior, 28 anos, é residente de ortopedia no Hospital de Base (HBDF) e convive com deficiência auditiva desde os dois anos, consequência de uma meningite. Nesta quinta-feira (15), ele recebeu um par de óculos de realidade aumentada, doados pela Associação Amigos do Hospital de Base.

O aparelho, importado dos Estados Unidos, transcreve áudio em tempo real e projeta legendas diretamente no campo de visão do usuário, permitindo que Gilson supere barreiras de comunicação em sua rotina hospitalar.
Gilson enfrenta desafios diários, especialmente em cirurgias, onde o uso de máscaras impede a leitura labial. Ainda em processo de adaptação ao implante coclear (de ouvido) feito em janeiro deste ano, ele relata que a comunicação ainda exige grande esforço. “Continuo enfrentando barreiras auditivas que exigem muito foco e energia mental”, relata.
Sensibilizados com a situação, os voluntários buscaram apoio para viabilizar a doação. Segundo a presidente da associação, Maria Oneide da Silva, o equipamento foi oferecido por um médico do próprio hospital, que preferiu não se identificar. “O doador se prontificou a ajudar o colega – foi um gesto de humanidade e solidariedade”, afirma.
A superintendente interina do HBDF, Fernanda Hak, também comemorou a iniciativa e, durante a entrega do aparelho, disse ao médico residente: “Esperamos que você aproveite ao máximo esses óculos e, da mesma forma que recebeu essa doação, continue doando seu talento e dedicação para cuidar dos pacientes. Sua trajetória é um exemplo para todos nós”.
Para Gilson Junior, o dispositivo será transformador: “Vai me permitir entender com precisão o que está sendo dito, mesmo em ambientes ruidosos ou quando as máscaras impedem a leitura labial. Isso vai potencializar meu aprendizado e integração com a equipe e os pacientes”.
Trajetória de superação
Nascido em Aparecida de Goiânia (GO), Gilson perdeu a audição aos dois anos, após uma meningite. Mudou-se com a família para Taguatinga (DF), onde estudou em uma escola bilíngue e aprendeu Libras. No retorno a Goiânia, enfrentou desafios, mas conquistou o direito a intérpretes na rede pública com o apoio do Ministério Público.
Embora tenha iniciado seus estudos em ciências da computação, foi na medicina que encontrou sua verdadeira vocação. “Sempre quis ajudar as pessoas, especialmente aquelas que enfrentam limitações, como eu”, conta. “A medicina é a maneira mais nobre de converter minha história em apoio para quem precisa”.
Ao receber os óculos, Gilson agradeceu à Associação Amigos do Hospital de Base, ao IgesDF, aos professores e colegas de trabalho. “Esse gesto representa muito mais do que tecnologia: é inclusão, empatia e apoio a um sonho”, declarou. “A deficiência pode limitar os sentidos, mas não precisa limitar os propósitos. Espero que minha trajetória inspire outros jovens com deficiência a acreditarem que é possível”.
Por Agência Brasília, com informações do IgesDF | Edição: Chico Neto