A nova secretária da Mulher do DF, Éricka Filippelli, aposta no papel estratégico da pasta para construção de políticas para as mulheres.
Segundo nome da equipe do novo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, a ser anunciado, a publicitária e presidente do MDB Mulher DF, Éricka Filippelli, é a nova secretária da Mulher do Distrito Federal. Tesoureira do MDB Mulher Nacional e ex-subsecretária de Articulação e Fortalecimento Institucional na Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres do Ministério dos Direitos Humanos, a brasiliense acredita que a pasta pode ter uma posição estratégica no novo governo, servindo de ponte para a articulação com outras pastas como Educação, Saúde e Segurança, para conquistar itens indispensáveis para a capital do país: promoção do protagonismo da mulher no desenvolvimento local; fortalecimento da rede de enfrentamento à violência contra a mulher; promoção da igualdade e construção de políticas públicas de qualidade para as mulheres.
“O governo Ibaneis já deixou claro que vamos olhar para a mulher como protagonista mesmo, como aquela que também tem responsabilidade e um papel importante no desenvolvimento da nossa cidade e da nossa nação. Então vamos investir também na promoção da inserção delas no mercado de trabalho porque autonomia econômica é uma estratégia importante até para encerrar o ciclo de violência. Para que elas possam reconstruir suas vidas e uma nova história para elas”, lembra Éricka.
Sugestão de olho: “Eu costumo dizer que, quando a mulher está bem, toda a família está bem. O resultado é uma estrutura mais consolidada, uma cidade empoderada e um país mais forte”.
Oportunidades iguais
Para a secretária, a mulher tem que ter as mesmas oportunidades que os homens no mercado de trabalho, ter renda equiparada, mais acesso a capacitação e desenvolvimento profissional. Uma pesquisa recente do BID mostra que se os países latino-americanos conseguissem equiparar a participação feminina à masculina no mercado de trabalho, o PIB (Produto Interno Bruto) da região teria um aumento de 16%. Outro estudo, do Fundo de Populações da ONU, aponta que, se as mulheres trabalhassem mais fora de casa, o PIB mundial cresceria R$ 23 trilhões. Já a Organização Internacional do Trabalho diz que apenas 50% das mulheres do mundo estão no mercado de trabalho, sendo que o percentual que quer trabalhar é muito maior. “Dados assim nos ajudam a defender as políticas públicas para inserção delas no mercado de trabalho e promover a autonomia econômica, porque muitas vezes elas se submetem à violência porque não têm para onde ir”, avalia.
Como presidente do MDB Mulher no DF há oito anos, Éricka passou os últimos meses promovendo encontros de incentivo ao empreendedorismo feminino para diversos pontos da região. Dentro do programa Mulheres Transformadoras, do MDB Mulher Nacional, que busca construir uma sociedade justa, verdadeiramente democrática, na qual as mulheres ocupem os espaços políticos e de poder, proporcionalmente à presença e ao papel delas na sociedade, a brasiliense conseguiu ajudar as pessoas de forma real. “O Mulheres Transformadoras surgiu de um projeto nosso que pretendia levar às mulheres de cada comunidade não só a política em si, mas projetos que ajudassem a transformar suas vidas. Para mim, a política não se resume em apenas incluir as mulheres na participação nas decisões, tem que ir além. Esse projeto cresceu de tal forma que hoje está em todos os estados e aqui levamos cursos simples que podem ajudar essas mulheres a terem renda extra e a adquirir autonomia econômica”, explica.
A bagagem da brasiliense para ajudar essas mulheres vem da experiência na SPM, onde chegou a substituir a então secretária Fátima Pelaes. “Na SPM a gente encontrou um desafio muito grande porque já havia uma estrutura consolidada de enfrentamento, mas faltavam programas de prevenção à violência e de construção de autonomia econômica da mulher. Tenho orgulho de ter estado à frente da única ação criada nesse sentido, que foi a Rede Brasil Mulher. A gente pactuou essa rede com mais de 50 instituições, entre elas o Boticário, a Avon, a Rede Mulheres Empreendedoras. Mostrando que as políticas para as mulheres não são só das mulheres, mas de toda a sociedade. É uma forma inovadora de trazer a sociedade para entender o papel da mulher, a importância das ações que valorizem a mulher, que quero repetir no DF”, revela.
Para realizar essas ações no novo governo, no entanto, o primeiro passo é dar força à secretaria da mulher. “O mais importante, quando a gente defende a autonomia de uma pasta específica, é justamente você ter o espaço e o poder para executar as políticas de forma mais eficiente. Vendo a situação atual do DF, a primeira medida em relação ao que já existe é buscar essa autonomia”, defende a secretária, que fez parte da equipe de transição do governo. No governo anterior, a Secretaria-Adjunta de Políticas para Mulheres estava subordinada à pasta do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. O protagonismo dado por Ibaneis à pasta anima a emedebista. “Geralmente, a pasta da Mulher é a última indicada, e eu fui a segunda a entrar na equipe. É um sinal de reconhecimento da importância do tema”, afirma.
Durante as reuniões com a equipe do ex-governador Rodrigo Rollemberg, a emedebista ficou preocupada com a falta de investimentos feitos em políticas de enfrentamento à violência doméstica e em programas nacionais que podem ser aplicados no DF. “Precisamos trabalhar o enfrentamento à violência porque a incidência de casos de feminicídio deu um salto de 75%, com 29 assassinatos de mulheres apenas neste ano. O Estado precisa garantir o atendimento às mulheres vítimas de violência e essa será uma prioridade da nossa secretaria”, revela Éricka.
Dados da Secretaria de Saúde do DF mostram que, em 2017 e 2018, houve 7.851 notificações de violência sexual, psicológica, negligência, abandono e tortura. E, em termos nacionais, só em 2017 o Ligue 180, central de atendimento da SPM nacional teve 117,2 mil casos registrados. Um dos instrumentos para dar atenção à essas vítimas é a reabertura da Casa da Mulher Brasileira, construída para garantir atendimento integrado 24 horas, incluindo finais de semana, fechada há mais de seis meses. “Há uma parceria entre o governo federal e o do DF, mas aqui, nunca se cumpriu o caráter para o qual ela foi construída. A Casa tinha horário para abrir, horário para fechar, e não funcionava no fim de semana. Para piorar, hoje, ela está interditada por problemas estruturais na casa”, critica a secretária.
Com a aprovação, na Câmara dos Deputados, do projeto que aumenta a pena de feminicídio que seja cometido em descumprimento de uma medida protetiva prevista na Lei Maria da Penha, Éricka acredita que os casos diminuam. “Esse é um desafio que todo mundo ligado às políticas para a mulher sempre enfrentou. Tem que haver uma mudança de perspectiva, trabalhar com a prevenção. Na Lei Maria da Penha, mais de 90% dos itens estão ligados à prevenção. Precisamos ir para as escolas, começar a tratar isso nas universidades, no ensino básico, no ensino médio, conversar com os professores”, relembra.
A área da saúde também deverá ser fortalecida, com ações de combate ao câncer de mama e de incentivo à prevenção de doenças da mulher. “O estado tem que estar preparado para atender essas mulheres, então vamos fortalecer o atendimento às mulheres”, revela Éricka.
Carreira Política
Em outubro, Éricka Filippelli decidiu se candidatar pela primeira vez a um cargo eletivo, tentou uma vaga na Câmara Legislativa. Casada há 15 anos com um dos filhos do ex-vice-governador do DF, Tadeu Filippelli, a publicitária se sentiu tocada pela vontade em ajudar o próximo e agora, como secretária, vai poder atuar na defesa da mulher e na geração de emprego e renda para todo o DF. “Quando comecei a conviver com meu sogro, eu passei a vivenciar essa experiência com o meio político de forma mais direta. Na verdade, foi com ele que comecei a ver como era ser político. Ele é uma pessoa que tem história em Brasília, é presidente do meu partido, pai do meu marido, avô dos meus filhos, e uma pessoa por quem tenho muito carinho”, conta a emedebista.
A atração pela política, no entanto, só veio em 2010 quando foi chamada para coordenar as equipes de campo do MDB no DF e se apaixonou pela chance de mudar a realidade com a qual se deparou. “Passei a conviver com líderes comunitários e saber das suas necessidades e anseios. Isso mexeu comigo. Eu percebi que podia dar a minha contribuição, que podia ajudar essas pessoas e as comunidades que eles representavam”, explica.