Cidadania

GDF garante empregabilidade a mulheres vĂ­timas de violĂȘncia e em vulnerabilidade social

A inserção feminina no mercado de trabalho ocorre por meio de acordos de cooperação tĂ©cnica firmados com nove ĂłrgĂŁos pĂșblicos; sĂł este ano, foram 30 mulheres empregadas formalmente por meio da ação

 

Assegurar autonomia financeira e dar autoestima Ă s mulheres sĂŁo os objetivos dos acordos de cooperação tĂ©cnica do Governo do Distrito Federal (GDF), por meio da Secretaria da Mulher (SMDF), com nove ĂłrgĂŁos pĂșblicos. As parcerias garantem a reserva de 4% a 8% das vagas de emprego formais a vĂ­timas de violĂȘncia, trans, quilombolas e outras mulheres inseridas em situaçÔes de vulnerabilidade, em empresas terceirizadas que prestam serviços Ă s instituiçÔes.

Beneficiada pela iniciativa, Rafaela Delamary trabalha hĂĄ um ano como auxiliar administrativa no STJ: “Tem sido incrĂ­vel. Esse Ă© meu primeiro emprego CLT. Eu nunca tinha tido oportunidade de trabalhar com carteira assinada, ter fĂ©rias e 13Âș” | Foto: Tony Oliveira/AgĂȘncia BrasĂ­lia

“A relevĂąncia dessa medida estĂĄ na assistĂȘncia oferecida Ă s mulheres vĂ­timas de violĂȘncia e em vulnerabilidade para que superem suas adversidades e conquistem uma vaga independente e digna”, afirma a secretĂĄria da Mulher, Giselle Ferreira. “Com essas parcerias, estamos garantindo o cumprimento da legislação e assegurando os direitos das mulheres.”

As iniciativas jĂĄ beneficiaram 92 mulheres. SĂł este ano foram 30 mulheres contratadas por meio da ação. Esse Ă© o caso de Maria (nome fictĂ­cio), 39, que hĂĄ poucos meses assumiu um cargo de vigilante na Procuradoria-Geral da RepĂșblica (PGR). A oportunidade veio apĂłs ela ter sido acompanhada nos equipamentos da Secretaria da Mulher. “Preenchi uma ficha de inscrição, e em pouco tempo me ofereceram esse emprego. Essa notĂ­cia me trouxe muita felicidade e esperança”, lembra.

Para ela, retornar ao mercado de trabalho foi como virar uma pĂĄgina de um passado de medo e violĂȘncias. A mulher chegou a ter que largar o emprego e mudar de BrasĂ­lia com a filha para fugir do ex-companheiro. Quando retornou Ă  capital, sĂł havia conseguido trabalho na informalidade. “Tive que me esconder para tentar me refazer. Passei um bom tempo dentro de casa. Tudo sĂł mudou quando comecei a ter acesso ao acompanhamento nos equipamentos da Secretaria da Mulher. Essa foi uma oportunidade de recomeço”, define.

Mais do que proporcionar melhores condiçÔes financeiras, o emprego deu a Maria a autoestima perdida nos Ășltimos anos. “Cheguei a um ponto de me sentir incapaz. Tudo isso era reflexo do que eu tinha vivido. Carrego essa ferida, mas ela nĂŁo me define mais”, complementa. Antes de assumir a função, ela foi preparada pela SMDF e teve acompanhamento mensal apĂłs o inĂ­cio do trabalho.

“Com essas parcerias, estamos garantindo o cumprimento da legislação e assegurando os direitos das mulheres”, afirma a secretĂĄria da Mulher, Giselle Ferreira | Foto: Tony Oliveira/AgĂȘncia BrasĂ­lia

Essa boa experiĂȘncia Ă© elogiada pela mulher. “Essa ajuda Ă© muito significativa, porque ela traz encorajamento mesmo. É um olhar para a frente. NĂŁo era o meu caso, porque eu trabalhava na Ă©poca, mas sabemos que muitas mulheres que hoje vivem esse quadro de violĂȘncia por causa da dependĂȘncia financeira. EntĂŁo essa Ă© uma porta de saĂ­da”, garante.

Ocupação de espaços

Rafaela Delamary, 40, Ă© outra mulher beneficiada pelo acordo. HĂĄ um ano ela trabalha como auxiliar administrativa no Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Tem sido incrĂ­vel. Esse Ă© meu primeiro emprego CLT. Eu nunca tinha tido oportunidade de trabalhar com carteira assinada, ter fĂ©rias e 13Âș, entĂŁo Ă© uma coisa maravilhosa”, conta.

O preconceito sempre foi uma barreira para que a mulher conseguisse um emprego formal. “Muito nova tive que enfrentar a discriminação e a falta de emprego tambĂ©m, porque muitas vezes o que sobra para as mulheres trans Ă© a prostituição ou a ĂĄrea de beleza, mas nĂłs podemos estar em qualquer tipo de ambiente exercendo diferentes funçÔes, como qualquer outra pessoa”, comenta.

Essa confiança foi construĂ­da por Rafaela apĂłs participar de uma ação social para a saĂșde de mulheres trans na SMDF. “Foi a experiĂȘncia que me deu um apoio de cidadania, de saĂșde e atĂ© psicolĂłgico. LĂĄ tive informaçÔes dos meus direitos e descobri que poderia ir muito alĂ©m, me sentir mais digna e mais humana e por que nĂŁo ocupar os espaços pĂșblicos trabalhando e estudando? Foi o que abriu minha mente para querer lutar e conquistar meu espaço”, recorda. Antes de entrar no STJ, ela foi inscrita no banco de dados da pasta e convidada para fazer cursos de qualificação. “Foi muito bom, porque foi uma forma de preparo”, ressalta.

Como funciona

Por meio de acordos de cooperação técnica, são disponibilizadas vagas para as funçÔes de serviços gerais, copeira, auxiliar administrativo, assistente administrativo, técnico em secretariado e vigilante, todas em regime CLT | Foto: Divulgação/IgesDF

Os acordos sĂŁo voltados a beneficiar mulheres que passaram por atendimento em algum equipamento pĂșblico da SMDF, como a Casa da Mulher Brasileira e as unidades do NĂșcleo de Atendimento Ă  FamĂ­lia e ao Autor de ViolĂȘncia DomĂ©stica (Nafavd), ou de outros ĂłrgĂŁos do GDF, como os centros especializados de atendimento Ă  mulher (Ceams).

“Temos um banco de dados sĂł com as vĂ­timas de violĂȘncia domĂ©stica e em vulnerabilidade social, trans, quilombolas. Quando elas sĂŁo atendidas em nossos equipamentos jĂĄ Ă© feita uma triagem, pegamos o currĂ­culo e, se elas autorizarem, entram no banco de dados, para quando surgir uma vaga elas serem comunicadas”, explica a chefe de Empregabilidade da SMDF, LĂ­dia AlcĂąntara.

 

Por Adriana Izel, da AgĂȘncia BrasĂ­lia | Edição: DĂ©bora Cronemberger