Cidadania

Parque da Cidade, coração verde de Brasília

‌Esporte, lazer, natureza e relaxamento, tudo em um só lugar. Conheça a história de um dos mais tradicionais pontos de encontro da capital federal

Lá em 1986, muito antes de as redes sociais surgirem como um verdadeiro rastilho de pólvora digital, o Parque da Cidade já era nacionalmente conhecido. Pelo menos entre os milhares de fãs da banda Legião Urbana. Quem curtia o quarteto brasiliense sabia que o mais verde ponto turístico da capital federal foi palco do primeiro date entre Eduardo e Mônica. Ela, de moto. Ele, de bicicleta – ou “camelo”, para ser fiel à letra do poeta do rock brasileiro.

O Parque da Cidade cantado por Renato Russo tinha sido inaugurado havia apenas oito anos. Ainda era chamado de Pithon Farias pelos mais íntimos e oferecia 16 estações de trenzinho espalhadas por seus 420 hectares.

Agência Brasília resgata a história deste espaço tão querido com 45 anos recém-completados na série #TBTDoDF. Nosso especial aproveita a sigla de throwback thursday para entrar na trend nostálgica, celebrando lugares e eventos que marcaram o quadradinho.

O início

Dia 11 de outubro de 1978. Os relógios marcavam 17h05 quando o então presidente da República, Ernesto Geisel, inaugurou o Parque Recreativo Rogério Pithon Farias. “É do povo, foi feito com dinheiro do povo e para que o povo usufrua. Que ele sirva à sua finalidade”, teria dito o mandatário, em um breve discurso.

O nome de batismo havia sido escolhido pelo governador do Distrito Federal da época, Elmo Serejo Farias, em homenagem ao filho morto em um acidente de carro. Foram 19 anos de Pithon Farias até que, em 1997, o espaço passou a celebrar a esposa do presidente Juscelino Kubitschek, virando Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek.

Nascido no centro de Brasília, o Parque da Cidade sempre carregou o DNA da nova capital federal. O projeto urbanístico é de Lucio Costa, os azulejos são de Athos Bulcão e o paisagismo foi assinado por Burle Marx. Os prédios também são de grife, desenhados por Oscar Niemeyer e Glauco Campelo.

Mas, ainda que a arquitetura atraísse os olhos mais treinados, o que encantava mesmo eram as inúmeras opções de lazer que o Parque da Cidade oferecia. “Eu chegava bem cedo para jogar nos campos de futebol. Depois, a gente costumava sentar perto do lago, fazer piquenique”, recorda o aposentado Jaime Rodrigo Santana, 65 anos. “Aí, mais de tardezinha, todo mundo ia namorar nos pedalinhos”.

O morador da Asa Sul lembra que o Parque da Cidade era uma das poucas opções de lazer que Brasília oferecia no início da década de 1980. “Todo mundo vinha pra cá, tanto para praticar esporte quanto para relaxar e se divertir”, conta. “E o interessante é que, até hoje, mesmo com os clubes e o Lago Paranoá, os moradores da cidade ainda frequentam bastante o parque. É uma tradição passada por gerações”.

Diversão

Quadras poliesportivas, parques de diversões, lagos, pistas de corrida, ciclovia, pedalinho, restaurantes, kartódromo, playgrounds, centro hípico, bicicletas para alugar… Não há como negar que o Parque da Cidade oferece atrações para todos os gostos e idades. Algumas delas, inclusive, ocupam espaço cativo no coração dos frequentadores há décadas.

O Parque Ana Lídia, onde fica o famoso “foguetinho”, já existia antes mesmo de o Parque Dona Sarah Kubitschek ser inaugurado, sendo incorporado por ele. “Não conheço uma única criança da minha geração que não tenha brincado muito lá”, comenta o estudante de enfermagem Carlos César Nogueira, 41. “O foguetinho é um clássico que encanta até hoje”.

Nascido e criado na Asa Norte, Carlos passava os finais de semana no Parque da Cidade. “Eu vinha a pé, com a minha mãe. A gente saía de casa, passava pela feirinha da Torre de TV e chegava aqui logo cedo”, relembra. “O dia começava na Nicolândia. De lá, a gente ia para o Ana Lídia e, se desse tempo, ainda passava no Castelinho”.

Se antes o Parque da Cidade era sinônimo de brincadeiras, hoje o espaço é reduto de relaxamento e saúde para o estudante. “Gosto muito de caminhar por aqui, é uma ótima chance de entrar em contato com a natureza”, observa Carlos. “Também curto sentar na beira do lago para tomar um vinho, ler um livro… Assar uma carne nas churrasqueiras que ficam perto do Estacionamento 4 também é uma delícia”.

Tradição

‌A Nicolândia, tão viva nas memórias de Carlos César, nasceu com o Parque da Cidade. Tanto que seu fundador, Antônio Hilário de Souza, carinhosamente conhecido como Seu Nico, foi o primeiro permissionário do local.

“Brasília não tinha outro parque de diversões. Talvez por isso a Nicolândia carregue tanta memória afetiva”, aponta Marcelo Gomes de Souza, herdeiro do negócio. “Conhecemos muitos pais que frequentavam o parque e que, hoje, trazem os seus filhos. É uma tradição passada de geração para geração”.

O empresário tinha apenas 6 anos quando a Nicolândia foi criada. E carrega na lembrança os bons momentos de uma infância vivida dentro do Parque da Cidade. “Eu andava muito de bicicleta por aqui. Catava manga, fazia piquenique”, afirma Marcelo. “Sou encantado por esse lugar, um espaço democrático, que oferece lazer para todos de forma igualitária”.

A perpetuação dessas memórias felizes que tanto marcaram a vida de Marcelo só é possível porque o Governo do Distrito Federal (GDF) tem investido em cuidados constantes com o Parque da Cidade. Os brinquedos do Parque Ana Lídia, por exemplo, foram todos renovados – cerca de R$ 30 mil foram gastos, em 2023, com manutenção e pintura dos equipamentos.

“Temos, ainda, a reforma completa do Castelinho, no valor de R$ 600 mil”, avisa o administrador do Parque da Cidade, Todi Moreno. A construção medieval em miniatura tem recebido pintura, reforma das ferragens e novo piso. Já os brinquedos do espaço estão sendo adequados às normas de segurança vigentes.

“O pedalinho já está operando novamente. E o trenzinho também vai voltar a funcionar, em uma versão com 24 lugares. As pessoas vão poder circular por todo o parque, conhecendo cada cantinho dele”, garante Todi. “Temos um parque vivo, que chega bonito aos 45 anos, bem cuidado e amado por Brasília.”

 

Carolina Caraballo, da Agência Brasília | Edição: Vinicius Nader